Alguns conhecimentos marcam a gente e ficam para sempre. É como aquela frase que ouvi de um palestrante: “aprendizado é para sempre!” A História Social da Criança e da Família, do francês Philippe Ariès, causou-me um impacto muito grande. Certos conceitos expostos ali estão comigo de forma muito presente, inesquecíveis. O autor fala sobre a evolução do conceito de criança no período medieval. Tendo como base obras de arte do período, ele analisa uma sociedade que desconhecia este conceito, só vindo a dar valor a esta fase da vida tardiamente. Segundo Ariès, os pequenos, quando retratados, tinham a fisionomia de homens de tamanho reduzido, indicando que provavelmente não houvesse lugar para a infância naquele universo. As crianças eram como que invisíveis, podendo acompanhar o mundo adulto livremente, até mesmo, em momentos mais íntimos de pais e vizinhos.
Na avaliação do autor, era como se não valesse a pena se preocupar com esta fase da vida que tinha um tempo curto e, pelas condições sanitárias da época, a possibilidade de perda era muito grande. Os índices de mortalidade infantil eram acentuados.
Outra conclusão que o autor chega é de que esta invisibilidade infantil, a não existência do conceito de infância, não criava razões para existirem escolas.
Segundo o autor, baseado numa análise iconográfica, as crianças passam a ser retratadas, só a partir do século XVII, com cara de criança e não mais de homenzinhos. Nos retratos, elas começam a aparecer vestindo roupas diferentes dos adultos. Além disso, tornam-se comuns pinturas que representam a criança morta, demonstrando que as pessoas começavam a se importar com aquela pequena criatura. Não por acaso, a ideia de uma escola parecida com o que temos hoje surge somente a partir da idade moderna. Claro que outros fatores igualmente concorreram pra isso.
Aos amigos que indicam bons livros, devemos agradecer. Nesse caso, devo fazer reverência a dica de minha amiga Mônica Kaseker. O livro foi uma luz pra mim. A História Social da Criança e da Família é daqueles que a gente nunca esquece e acaba se interessando em querer saber mais sobre o autor. Livro bom é assim. Philippe Ariès (A pronúncia do sobrenome é com dois erres, em bom francês. Até disso a gente vai atrás) tem uma bibliografia muito rica e profunda. Claro, ele tem contestadores como todo o bom pesquisador. Afinal, como diz o conceito básico de filosofia: nada é absoluto.
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