terça-feira, 22 de março de 2022

Cem Anos de Solidão

 

    Como alguém pode ser tão criativo, pode escrever um livro tão bom quanto esse? Cem Anos de Solidão tem tanta coisa que a gente fica meio assim, assim de falar. É uma obra mágica, inspiradora.

    Gabriel Garcia Marques é um escritor sensacional e muito modesto. Dizem que após escrever a obra-prima de sua carreira teria dito que não esperava grande coisa daquele texto. Mas, basta que, Cem Anos de Solidão é considerado um dos livros maiores da língua espanhola, perdendo, talvez, para Dom Quixote, tendo até hoje uma venda estupenda.


    Um livro difícil de explicar, difícil de destrinchar assim em poucas linhas. É um enredo de outro mundo, engraçadíssimo. Há milhares de histórias dentro das histórias, há o tempo que vai e vem, há personagens de nomes idênticos, há mulheres fortes de nomes bem diversos. Se você tem problemas para gravar nomes de personagens, como eu, prepare-se bem.

    Já ouvi que a literatura que Gabo, como é chamado em seu país natal, a Colômbia, faz se chama Realismo Fantástico ou Realismo Mágico. Ele mesmo não aceita estes rótulos, mas muita gente o trata assim. O fato é que histórias maluquinhas de gente com seus comportamentos estranhos, da família de ciganos que sempre volta à cidade com as últimas novidades do mundo exterior, de fantasmas que habitam Macondo, onde choveu cinco anos sem parar, fundada pela família Buendia, brotam na obra e concorrem para que o encaixotamento do autor nesta nomenclatura não seja tão absurdo assim. As semelhanças com passagens bíblicas também dão este ar fantástico à narrativa.


     Macondo foi fundada pela família do patriarca José Arcádio Buendia e a matriarca Úrsula Iguarán num local distante, isolado no tempo e no espaço. Descolada do mundo, a família perpassa cem anos e suas gerações se repetem, se copiam. O uso de nomes iguais para os homens da família reflete bem essa ideia de continuidade, essa mesmice, o círculo da vida, etc; quem não conhece famílias que usam nomes iguais para seus descendentes como forma de homenagear uns aos outros?

    Todos na história, de certa forma, vivem uma espécie de solidão.

    Minha leitura original do livro foi num exemplar que adquiri num sebo. Uma edição em brochura da Record que guardo até hoje. Apesar de menos apto à época para ler tal envergadura de escrita (entre outras, tive que buscar no dicionário o significado de diáfana), indicada entusiasticamente pelo meu primo Leandro Ramirez, fiquei maravilhado com a história. E assim como me recomendaram um dia, também recomendo agora a leitura imediata para os incautos que ainda não a fizeram.

    Depois, me diga se esta não é uma das passagens mais hilárias da obra quando o cigano Melquíades chega de viagem usando uma dentadura:

De modo que todo mundo foi à tenda, e com o pagamento de um centavo viu um Melquíades juvenil, refeito, desenrugado, com uma dentadura nova e radiante. Os que recordavam as suas gengivas destruídas pelo escorbuto, as suas bochechas flácidas e os seus lábios murchos, estremeceram de pavor diante daquela prova decisiva dos poderes sobrenaturais do cigano. O pavor se converteu em pânico quando Melchíades tirou s dentes, intactos, engastados nas gengivas, e mostrou-os ao público por um instante – um instante fugaz em que voltou a ser o mesmo homem decrépito dos anos anteriores – e botou-os outra vez e sorriu de ovo com um domínio pleno de sua juventude restaurada.”


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