terça-feira, 26 de outubro de 2021

Uma História da Leitura com muitas histórias

 

    O psicólogo James Hillmann afirma que a pessoa que leu histórias ou para quem leram histórias na infância “está em melhores condições e tem prognóstico melhor do que aquela à qual é preciso apresentar as histórias. […] Chegar cedo na vida já é uma perspectiva de vida”. A citação está presente no livro do argentino Alberto Manguel, Uma História da Leitura (1997). É uma das muitas passagens da obra que exaltam o valor da leitura e a importância dos livros na evolução humana. O autor nasceu em Buenos Aires, mas virou cidadão do mundo, pois morou na Itália, na França, na Inglaterra e no Taiti. Depois se tornou cidadão canadense.

    Manguel revela que aprendeu a ler sozinho, decifrando os caracteres logo aos quatro anos. “Foi como adquirir um sentido inteiramente novo”, escreveu. A escrita veio depois. Por isso, ele diz que a leitura precede a escrita. Tornou-se um leitor voraz enquanto permanecia em casa durante as ausências do pai que viajava muito nas funções de diplomata. Tinha uma biblioteca particular gigante à disposição. 


     No livro, narra experiências a partir de suas leituras.
E esclarece logo que o livro é o resultado de sua história da leitura, e não a única história. O trabalho de Manguel é enriquecedor. Conta trocentas mil histórias das mais variadas origens e para todos os gostos. Algumas não saem mais da cabeça da gente. Tem aquela de dois visitantes que chegam na residência de Santo Agostinho e flagram-no no silêncio do jardim no momento da leitura. Escondidos para não atrapalhar, espiam admirados o Santo ler com os olhos e não com os lábios, como acontecia naquele tempo. Era um período em que, alguns poucos privilegiados de então, evidentemente, faziam leitura em voz alta para grupos. Ler com os olhos não era uma capacidade comum.

    Outra passagem interessante é aquela em que o autor compara a leitura de pergaminhos em rolo com o que acontece hoje quando lemos num computador. Ele diz que voltamos ao antigo formato de livro que revelam apenas uma parte do texto de cada vez, à medida que “rolamos” para cima ou para baixo. Não é perfeita a comparação? Perfeita. Perspicaz, não é?

    Enfim, um livro memorável. A leitura fácil, graças ao estilo do autor, ajuda muito e faz o exercício fluir. Uma História da Leitura é uma viagem através do mundo. Ler, realmente é viajar.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

A Sociedade Midíocre de Juremir

 

    Já falei do Juremir Machado da Silva no texto anterior e falo de novo. Ele tem uma excelente coluna de opinião no jornal Correio do Povo de Porto Alegre. Tanto na edição impressa quanto na digital, ele consegue fazer análises muito aguçadas sobre acontecimentos diários que vão construindo a nossa realidade. Juremir comenta com a autoridade de quem fez o pós-doutorado (1998) na França orientado por Edgar Morin, Jean Baudrillarde Michel Maffesoli. É jornalista e historiador, autor de dezenas de livros e tradutor de muitos outros. Quando li A Sociedade Midíocre. Passagem ao Hiperespetacular: o fim do direito autoral, do livro e da escrita (2012), pude ver um pouco mais de um conceito frequentemente abordado por ele em sua coluna diária. A partir da ideia de que hoje em dia todo mundo é autor, todo mundo é escritor ou, pelo menos, aqueles que se manifestam pela internet assim imaginam, ele analisa o comportamento de nossa sociedade onde há mais emissores de mensagens do que receptores.

Juremir é jornalista e historiador

    Agora todos estão no palco, não há mais a divisão entre a plateia e o palco. Todos são celebridades no mundo do hiperespetáculo. O importante neste mundo não é exatamente a informação. Distrair passou a ser certamente uma estratégia de sobrevivência, inclusive do jornalismo. E a distração não suporta muito conteúdo. Um mundo chega ao fim, diz Juremir. Surgirá, na Sociedade Midíocre, enfim, o homem plenamente contemplativo, sem cérebro, ou com um cérebro reduzido a funções mínimas e também sem pernas, dado que todo o deslocamento será virtual.

    O autor conclui que será o fim dos autores, fim do livro impresso e do e-book. E, mais ainda, o fim da escrita. Começa um novo mundo.

    O livro todo é cheio de recortes com frases muito bem construídas que fazem o leitor refletir a cada passo. “A sociedade “midíocre” foi mais longe e deu visibilidade a personagens obscuros”, ele diz. Quer frase mais reveladora do que esta?

    Viva Juremir Machado da Silva!!!



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