quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Meu fiel escudeiro Luís e Dom Quixote de la Mancha

 

Lembro do meu bom amigo Luís lendo Dom Quixote de la Mancha e rindo com as sandices e trapalhadas do cavaleiro andante. Lembro dele achando graça do nome da suposta dama de Quixote, a Dulcinéia del Toboso. Meu amigo num canto da minúscula cozinha e eu no outro naquela meia-água saudosa, do bairro Palmeirinha, onde morávamos no tempo de estudantes em Ponta Grossa, PR. O exemplar era muito bonito. Uma edição especial de capa dura lançada pela editora Abril que fazia parte da coleção Obras Primas. Eu cursava Jornalismo e ele fazia o curso de Processamento de Dados. Éramos amigos desde a infância e tínhamos ido juntos estudar na UEPG.

Até hoje em dia, se questionado sobre um dos melhores livros que leu, Luís dirá, seguramente, que a história do cavaleiro da triste figura está entre as favoritas.

Nem mesmo o texto rebuscado da obra ou o jeito empolado de Dom Quixote falar conseguiu desanimar meu amigo de concluir a leitura daquele clássico da literatura. A tarefa tomou vários dias, período em que meu companheiro de morada, não raras vezes, parada a leitura para mencionar os trechos mais malucos protagonizados pelo cavaleiro, seu cavalo Rocinante, seu fiel escudeiro Sancho Pança e a platônica dama Dulcinéia.

Evidentemente, fui ficando cada vez mais curioso a cada relato do ávido leitor ao meu lado. Líamos à noite e éramos beneficiados por não termos um aparelho de TV na casa, não por opção, mas por falta de condições de comprar um aparelho mesmo. Enfim, líamos depois de frequentarmos as aulas num dos blocos do memorável campus da Universidade na Praça Santos Andrade.

Só mais tarde acabei lendo a obra na íntegra e apreciado mais profundamente o gênio literário de Miguel de Cervantes.

Não vou citar trechos da história que é bastante conhecida, por assim dizer, fazendo parte do inconsciente coletivo. Ao leitor inexperiente da obra completa ou àquele que só ouviu falar dessas aventuras, uma informação importante está logo no começo da narrativa que dá conta do motivo que levou Dom Quixote a cavalgar pelo mundo para defender os mais fracos e indefesos. O famoso fidalgo se dava a ler livros de cavalaria aos montes e lá pelas tantas endoideceu, como nunca jamais caiu louco algum no mundo, encarnando um cavaleiro andante, montado num cavalo magro, portando armas desgastadas e enferrujadas de seus bisavós.

Por tudo isso, eu ainda guardo um luxuoso exemplar que não sei ser ou não o mesmo que lemos há trinta anos atrás. Não importa. É o mesmo livro, são as mesmas recordações e a mesma satisfação em lembrar daquele período especial da vida.

Um abraço ao Luís e ao Dom Quixote.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Viagens e Montanhas de Arlindo Zucchello - para apaixonados como o autor

 

Ao chegar ao topo da montanha mais visitada pelos montanhistas no mundo, a quase seis mil metros de altitude, próximo das bordas do inativo vulcão Kilimanjaro, no dia 21 de novembro de 2011, ele não teve dúvidas, abriu a bandeira vermelha e verde de Concórdia, SC, para fazer a foto no Pico Uhuru, na Tanzânia, no topo da África.

O montanhista/jornalista e dublê de escritor, é concordiense de nascimento, mas, a julgar pelos tantos lugares que já conheceu, pode ser considerado cidadão do mundo. A homenagem ao município natal ele já havia feito ao fim da subida do gelado Elbrus, na Rússia, o ponto mais alto da Europa, a 5.642 metros. Depois, em outro momento, ao chegar ao Monte Caburai, o ponto mais distante do Brasil, no estado de Roraima, mais uma vez fez questão de registrar o momento com uma bandeira de Concórdia e a colocou no lugar do pavilhão nacional corroído pelo tempo, antes alçado por espia de aço em roldanas. 

Os relatos detalhados desses e outros fatos estão registrados no livro Viagens e Montanhas lançado pelo autor em 2016. Ele conta detalhes interessantes de suas empreitadas a pé pelo mundo.

Estão lá a subida ao monte boliviano Huyana Potosi, a aventura até o mítico Everest, entre o Nepal e Tibete, onde alcançou o campo base da famosa montanha e o trajeto de mais de mil quilômetros, feito em 26 dias pelo Caminho de Santiago de Compostela, entre a França e a Espanha, o Monte Caburai, o ponto mais distante do Brasil, no estado de Roraima e a subida ao Monte Vicuñas, 6.067 metros, no Chile, .

Li o livro de Zuchello com imensa curiosidade, afinal, quem não quer ter um pouco de mundo, né? É difícil fugir do jargão e não dizer que “viajei com o autor”, acompanhando as narrativas. Alcancei com ele picos gelados, montanhas cobertas de neblinas, lugares exóticos e surpreendentes e paisagens deslumbrantes.

Não chega a dar bolhas nos pés, nem torções em tornozelos, mas é uma leitura de tirar o fôlego que vale a pena ao final da jornada.

Só um apaixonado faz o que o Zucchello faz. As “escalaminhadas”, como ele diz, já foram tantas que já não cansa mais. “Trilhas e tantos trekkings me propiciaram melhores condições de saúde física e mental”, revela.

Por último, chama atenção o estilo linguístico do autor. Não estranhe a economia de preposições e verbos. A característica dá um sabor especial à leitura e mantém a narrativa em alto nível.



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